Esquizofrenia na infância: considerações diagnósticas

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Texto: Luciana Nogueira de  Carvalho  /  Hélio Lauar.

O diagnóstico da esquizofrenia na infância pode ser considerado um desafio, devido ao fato de apresentar sintomatologia inespecífica e diagnóstico diferencial muitas vezes difícil com outras condições. Além disso, existem poucos estudos publicados na literatura relativos a esta faixa etária. Desta forma, são discutidos alguns pontos relevantes referentes às manifestações deste grave transtorno mental na infância, com ênfase nas etapas a serem seguidas na investigação diagnóstica.

Na história da moléstia atual a pesquisa minuciosa dos sintomas e suas características, tais como: modo e tempo da instalação sintomática, fatores desencadeantes, atenuantes  e agravantes do quadro clínico, a presença de alucinação e delírio deverá ser cuidadosamente diferenciada de um processo próprio do desenvolvimento infantil. Grande parte das crianças vive suas fantasias, apresenta um conceito de realidade diferente do adulto e nem por isso são psicóticas.  As mudanças de comportamento associadas ao quadro clínico, tais como: choro, episódios de agressividade, irritabilidade, alterações do sono e da alimentação, perda ou não de habilidades adquiridas, alterações da linguagem, comprometimento da interação social, além de  fatores clínicos associados, serão importantes para o diagnóstico diferencial com transtornos psiquiátricos e neurológicos em geral.

As crianças com Esquizofrenia geralmente vão se desinteressando pelas atividades realizadas anteriormente e apresentam um quadro inicial de irritabilidade. Após um período inicial prodrômico, as crianças se isolam, param de freqüentar a escola, tornam-se agressivas e  progressivamente apresentam uma deterioração da vida emocional com comprometimento importante. O quadro clínico pode variar de momentos de total apatia para outros de uma excitação impulsiva exagerada. Este acontecimento exige diagnóstico diferencial com os Transtornos Bipolares do Humor, mas o comprometimento cognitivas e social é mais evidente na Esquizofrenia que se mostra freqüentemente como uma síndrome deficitária, apesar das suas possibilidades inibidas e ou desinibidas do comportamento. Muitos autores consideram que o sintoma  mais característico de deste transtorno politético é o do comprometimento das relações afetivas cognitivas com o social. Os contatos são superficiais e às vezes agressivos, principalmente com familiares, ocorrendo rupturas e comportamentos bizarros.

Assim, diante de uma anamnese bem feita e do exame do estado mental cuidadoso, o examinador formulará sua hipótese diagnóstica e deverá  continuar buscando na evolução da história natural, mais elementos sugestivos de Esquizofrenia na infância. A resposta à medicação, apesar de não ser suficiente para a definição diagnóstica, pode funcionar como coadjuvante ao diagnóstico. O uso de antipsicóticos torna-se e então obrigatório em todos os casos e o ideal é que se faça também sessões de orientação familiar para os casos de Esquizofrenia na infância. Assim poderíamos dizer que na infância a Esquizofrenia se apresenta muito mais marcada pela perda de habilidades do o que pela presença de sintomas positivos[1]. A síndrome se caracteriza, portanto como mais negativa e ou desorganizativa do desenvolvimento.

Muitos quadros clínicos na infância podem cursar com os mesmos sintomas iniciais de um quadro semelhante ao de Esquizofrenia na infância e devem ser rigorosamente excluídos. Uma bateria de exames será feita de rotina, a saber: hemograma completo, glicemia de jejum, PCR, VHS, proteínas totais e fracionadas, provas da função tireoidiana, hepática e renal, pesquisa de erros inatos do metabolismo, EEG, estudos de imagem estrutural e funcional (Ressonância Nuclear Magnética e SPECT Cerebral) acrescida de exame toxicológico, se existirem clínica e história sugestiva  O cariótipo deverá ser feito nos casos em que a criança preencher os critérios em relação à presença de estigmas. Essa rotina de exames complementares está justificada em função da atipicidade do quadro clínico e da precocidade de instalação de transtorno típico de manifestação na idade adulta. Nestes casos se faz necessário investigar amplamente as condições que afetam o desenvolvimento neuropsicomotor.

A Esquizofrenia na infância é grave, de curso crônico e altamente incapacitante. Embora pontos de apresentação fenomenológica semelhante com as formas apresentadas pelos adultos estejam presentes na infância, torna-se fundamental o incremento de pesquisas específicas para esta faixa etária, uma vez que a patologia é  raramente encontrada nas crianças e os critérios diagnósticos nem sempre são preenchidos plenamente. A avaliação na criança pequena é difícil e as alterações relativas aos métodos de neuroimagem são ainda inespecíficas embora estudos já

apontem para um aumento dos ventrículos presente desde o inicio do processo, reforçando a teoria do neurodesenvolvimento em sua gênese.