TRANSINDIVIDUALIDADES: corpos nômades, sexualidades múltiplas e direitos políticos

As diversas nuances e possibilidades de construções dos gêneros e das sexualidades humanas, mais do que nunca, vêm ganhando visibilidade nos dias atuais. Resultado de uma interação complexa entre componentes biológicos, psíquicos, sociais e culturais, essas matizes questionam o determinismo biológico dos corpos, evidenciando a pouca operatividade do discurso que sustenta a existência de entidades dicotômicas e pré-definidas.

Neste debate, proponho o termo “transindividualidades” para pensarmos nas multiplicidades de gêneros, corpos e sexualidades fora de qualquer normatização ou classificação. Essa suspensão em nosso contexto, por um lado, pode corroborar para a existência de sujeitos nômades, alijados de seus direitos políticos e marginalizados pela sociedade. Por outro, ela pode representar uma alternativa para o exercício de autonomia a partir da colocação em ato da singularidade de cada um, produzindo um verdadeiro acontecimento político e social. Refletir sobre esses dois polos é essencial para que não nos paralisemos em uma prática automática, abrindo espaço para repensarmos nas políticas públicas destinadas a ampliar – ou realmente conceder – os direitos básicos que cabem a qualquer cidadão.

Alexandre Costa Val

Psiquiatra, Doutor em Saúde Coletiva

Professor do setor de Saúde Mental da Escola de Medicina da UFOP